Concluímos mais um ano enfrentando pandemia e incertezas. Passamos por angústia, medo, sofrimento, dor e perda. Estivemos distantes, afastados do convívio presencial nos encontros na Escola.
Fechamos os consultórios e partimos integralmente para as sessões online – essa modalidade era, até então, praticada em casos excepcionais.
O Ensino da ELP-RJ passou pelo desafio de aderir às plataformas de videoconferência. O esforço e empenho diante de tantas dificuldades nos renderam perspectivas interessantes. Recebemos um público ainda maior de outras localidades, cidades, estados e países. Aos poucos, aprendemos e nos arriscamos nas plataformas e mídias sociais.
O mundo não será mais o mesmo: aceleramos o nosso processo tecnológico. Imaginem Freud escrevendo em seus artigos, nos dias de hoje, sobre a tecnologia avançada, como o filho do humano nascido do casamento entre o Capitalismo “Pós-Industrial” e a Ciência… Será que a tecnologia digital inaugura novos tempos, em que o real é o que retorna das interações virtuais? Poderemos diferenciar os encontros virtuais dos presenciais? Lacan afirmou que a religião triunfará – será que marcharemos em massa diante do altar de um novo deus Matrix? Enfrentaremos muitas e inéditas questões nos próximos anos.
Nossa prática não acontece nos templos ou cultos religiosos, nem em laboratórios científicos: ela se dá no privado da clínica e se estende ao público da Escola. A clínica é o lugar ou acontecimento em que um sujeito fala para um outro, interrogando-se sobre sua dor ou sofrimento. Há um novo contexto que desconstruiu ideais, que nos tirou do conforto do setting “habitual”. Ainda que as sessões presenciais retornem predominantemente, não poderemos deixar para trás o que dos fenômenos da transferência passaram a ocorrer na modalidade online. A tecnologia avança, as narrativas ganham novas roupagens, surgem novas urgências, demandas e vínculos sociais. O sujeito freudiano, reafirmado por Lacan, será aquele que devolve à experiência humana o testemunho sobre a divisão entre saber e verdade?
Em Metrópolis (1927), Fritz Lang nos apresenta um mundo dividido entre trabalhadores oprimidos e habitantes opressores do jardim idílico – o cenário é o da urbanização acelerada, exploração e mecanização do trabalho. O corpo é acessório na produção industrial. Mas mesmo nesse ambiente improvável, o amor brota.
Se o amor é o insucesso do inconsciente, o seu obstáculo mais resistente, é também a prova da condição humana: falta; desamparo e divisão. Avançar além do desalento, da dor de existir, das perdas, dos desencontros e fracassos não é sem levar consigo algo do amor jamais vivido ou realizado.
Em tempos de amizade, família, confraternização, celebração, esperança e renovação, desejamos a todos Boas Festas, alegrias, paz e um novo ano em que estejamos reunidos em torno do trabalho e transmissão de um saber em permanente construção.
A Direção e Secretaria de Publicação da ELP-RJ