Por Sérgio Cwaigman Prestes
Com a pandemia do coronavírus, orientados pelo discurso da Ciência, foi estabelecido o distanciamento social, o regime de quarentena e o uso obrigatório de máscaras. Neste momento, portanto, a Ciência revelou-se como o único saber capaz de indicar um caminho possível. A Psicanálise, por sua vez, vai lidar com os efeitos de tudo isso, seja na forma da angústia, da inibição e do sintoma, seja também na variedade de soluções encontradas para lidar com o isolamento exigido pela pandemia.
O Seminário 11, que vamos trabalhar neste ano “pandêmico”, foi o primeiro dos Seminários de Lacan após o que ele chamou de “excomunhão maior”. Ele queria retornar aos quadros de analistas da IPA, mas foi recusado e isolado pelos seus pares. Eles exigiam que Lacan modificasse a sua prática clínica ou parasse de exercer a análise didática, se quisesse continuar pertencendo a IPA. Ele recusou, e o Seminário 11 é o resultado desta recusa.
É o Seminário, nas palavras de Miller, de alguém que está começando de novo. O lugar e o público mudaram. Os Seminários anteriores eram dados a uma plateia de clínicos, num hospital psiquiátrico, enquanto este Seminário era o primeiro a se dirigir ao público em geral, num salão de conferências, na Escola Normal.
Lacan, ao longo do Seminário, sai do isolamento imposto pelos seus pares e funda sua própria Escola, nomeada de Escola freudiana de Paris, para mostrar que não era um dissidente de Freud, como Jung. Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise são, na verdade, uma referência direta a Freud, uma vez que esses conceitos são tirados diretamente de sua obra. São eles o inconsciente, a repetição, a transferência e a pulsão, que fundamentam o campo freudiano da prática clínica. No entanto, fica claro, que ao ministrar o Seminário, Lacan introduz novos conceitos que, a rigor, não estão na obra de Freud. É um ir além de Freud, com Freud. É um ir além, sem deixar Freud de lado.
A proposta deste grupo é trazermos alguns recortes de cada capítulo do Seminário, com o objetivo de debatermos os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica. Abriremos o primeiro encontro, na próxima quarta (09/09), às 19h30, com o capítulo “A excomunhão”.
O objetivo deste grupo é realizarmos um trabalho coletivo, em que cada membro, que decidir participar desta empreitada, ficará encarregado de um capítulo e nos trará um recorte à sua própria maneira, enfatizando algum aspecto da clínica psicanalítica.