Como a live do Seminário coordenado por Teresa Melloni e transmitido ao vivo no nosso perfil do instagram, “O que resta do pai, no final da análise”, sofreu com problemas tecnológicos, impossibilitando que a live ficasse salva no IGTV da ELP-RJ, a psicanalista escreveu um complemento ao que foi dito na atividade do último dia 25 de agosto. Confira as observações da Teresa Melloni:
Eu encontrei no Seminário “O Ato Psicanalítico”, as melhores contribuições para abordar as questões do nome ao final de análise, por isso, vamos continuar por ele.
E o que ele diz, quanto à Verdade, ao final de análise, o que resta?
Vejamos o que diz Lacan, na pág. 266: “ela jaz no ponto em que o sujeito recusa o saber”. A seguir, ele fala de quão pouco sabe o analista.
É interessante, também, ver o que ele diz, na página seguinte, sobre o saber da Ciência, que apesar de só ter surgido quando o sujeito abandonou o que se passa entre ele e o Outro, ainda assim, não é (o saber científico) um saber do Real: ele é o complemento de uma linguagem em relação ao Real, ele morde o Real.
Quanto à interpretação, ela é um pedaço de algo que teria ocupado o discurso do sujeito, sem que ele o soubesse. E mesmo o ato analítico, que tem origem no fantasma do analista, na sua travessia, tem caráter opaco, fechado, mas opera como um choque na repetição em que o analisante vai recolher o saber. Logo, é da relação do sujeito com o Outro, campo da fantasia, mas também, nascedouro dos sintomas, que vem o Saber combalir de verdade.
Mas temos, aqui, uma reviravolta: o Saber surge quando o sujeito se afasta da posição de objeto na relação dele com o Outro, sob a forma de um saber sabido, o saber científico, alienado ao Outro, na cena fantasmática. E é na suspensão desse saber neurótico, na quebra dessa continuidade sintomática, promovida pela intervenção da presença real do analista na transferência, que a Verdade pode surgir.
Vemos aí, uma revirada de banda, entre Saber e Verdade, a mesma que se dá entre sintoma e Sinthoma.
Bem, vamos dar continuidade ao nosso caminho na obra de Lacan, per-seguindo o Pai.
Ainda nesse Seminário, lição 6, Lacan vai introduzir o ato psicanalítico, para interrogar esse ponto de equilíbrio em torno do qual se coloca a questão do que é o ato.
Ele parte da subversão do sujeito entre esse sujeito gramatical inscrito e esse escorregadio, que sempre escapa, que surge a partir do ‘eu não penso’, esse saber inconsciente, saber sem sujeito. Percebam que há aí uma interposição entre o SsS e o saber sem sujeito. Por isso, pensamos que o ato psicanalítico não se dá sem transferência, mas por outro lado, ele ultrapassa a suposição de saber, para alcançar o saber sem sujeito. De qualquer maneira, esse sujeito está implicado nesse saber, na medida em que o ato surge de um abalo desse saber, do retorno de um significante recalcado, que não é esse que representa o sujeito, para outro significante, mas sim do que funda o inconsciente, suportando com esse ato, o lugar da transferência. Mas o que faz do analista esse suporte do SsS? É exatamente o fato de ele suportar o seu des-ser, essa barra sobre o S, que é o objeto a. É ele que vai comandar a operação do desser do SsS, o analista.
(P. 90)