Escola Lacaniana

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Os Dispositivos de Verificação na Formação do Analista

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Categoria:

Organização: Escola Lacaniana de Psicanálise de Brasília, Rio de Janeiro e Vitória

 

Apresentação
Quando recebi o convite para fazer o prefácio deste livro, meu primeiro movimento foi de hesitação. No entanto, não poderia recusá-lo, já que venho participando das discussões em torno da questão da formação dos psicanalistas, sobretudo no que tange os fins de análise e dos Passes, faz muitos anos.
Talvez o pudor em lançar-me na tarefa não se resumisse à complexidade do assunto, o qual tem gerado tantas controvérsias, nos meios lacanianos.
Penso que a experiência difícil vivida nos dispositivos dos quais fiz parte, como candidata ao Passe e membro de júris, produziu em mim muitos questionamentos, para os quais ainda não encontrei respostas satisfatórias. Portanto, o texto que lhes ofereço como apresentação para o livro é uma sincera reflexão sobre os acontecimentos que experimentei ao longo dos vinte e cinco anos de fundação da Escola de Psicanálise – RJ, bem como de minha convivência como membro na Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória e como participante ativa da Escola Lacaniana de Brasília. Nesses três lugares, dedico-me a trabalhar, junto aos meus pares, tudo o que experimentei com o vigor do discurso psicanalítico.
Desde a primeira experiência do Passe vivida na Escola, vimos construindo o lugar que acolha os discursos daqueles que querem o risco necessário de seus depoimentos sobre o que teriam sido suas passagens de psicanalisandos a psicanalistas. Todos os que até agora o fizeram têm já o mérito de terem tomado para si a responsabilidade de se lançarem, sem que suas decisões pudessem ser acolhidas em dispositivos de Passe constituídos com clareza sobre suas funções, uma vez que havíamos decidido, inicialmente, que queríamos nomeações e, depois, pelo fracasso de duas experiências consecutivas, optamos por suspender, temporariamente, essa possibilidade.
Muitas propostas foram pensadas até chegarmos à conclusão de que precisávamos deixar que as falas das experiências nos levassem ao lugar da verdade, tendo como guia a douta ignorância: ela se articula com o desejo do psicanalista, por uma face, e, por outra, com o saber do psicanalista.
As experiências vividas mostraram que precisamos construir um dispositivo do Passe, que não seja mera cópia do proposto por Lacan: algo que tenha a marca do que elaboramos durante esse longo percurso. Não há como pensar o autorizar-se a psicanalista sem ter clareza sobre o que foi a experiência de cada um.
O movimento de um pedido de Passe instrui sobre a transferência de trabalho na Escola, pois, se o psicanalista é aquele que deu um passo no escuro do autorizar-se, é porque ele se foi na luz emanada do que deixou cair de sua própria análise, bem como do que extrai no convívio com seus pares, apesar do mal-estar, como ensino e transmissão.
Ao fazer o pedido de Passe à sua Escola, o suposto passante também pede a seus pares que recebam seu discurso como um resto, o objeto que é um nada em sua fala, do que foi a finalização de um trabalho de transferência, do qual ele é o efeito. Resto que ainda queima em seus ouvidos e cuja única possibilidade de encontrar um destino digno está no retornar à fala, sob a forma de um discurso com consequências para a sua Escola, fazendo-a avançar.
A solidão do ato psicanalítico faz com que os psicanalistas queiram estar juntos para, solitários solidários, atestarem a impossibilidade de seus testemunhos responderem ao que é uma psicanálise. Porém, se Lacan propôs a Escola como lugar de liame para diferentes estilos, numa convivência tensa, mas produtiva, foi certamente por acreditar que era possível dar testemunho do irredutível do inconsciente num público escolhido, onde um campo novo de realizações se abriria aos laços de reconhecimento e amizade, livres da exigência dos ideais e das similitudes.
Assim, a proposta de um dispositivo do Passe em nossas Escolas obedece à lógica da necessidade de um dizer que produza trocas discursivas, girando a roda da vida para que um novo amor advenha na esteira de cada novo dizer, na sustentação da existência do discurso psicanalítico.
Em junho de 2013 foi realizado, no Rio de Janeiro, o evento dedicado a retornar às três Escolas os resultados dos trabalhos dos passadores e júris de acolhimento, de dois pedidos de Passe. Estes trabalhos mostraram que acolher a demanda de falar sobre a finalização de uma análise é importante, porque “acorda” a Escola de seu sono, provocado pelo cotidiano e o já instituído, quebrando os ideais e dando outra significação ao estar com os pares, num lugar onde o ensino e a transmissão da psicanálise possam ser interrogados.
Dessa vez, convidamos a Escola Freudiana de Buenos Aires a estar conosco, nos júris. Vimos como uma experiência translinguística pode dar bons frutos. Percebemos, também, que não existe modelo para um dispositivo do Passe, e que, portanto, o fundamental é propiciar àqueles que pensam terem terminado suas análises um lugar digno onde possam falar de suas experiências, sem a transferência em análise, mas com transferência de trabalho com a Escola e com a psicanálise. Se alguém terminou sua análise, há de ter o entusiasmo de seguir passando o que extraiu de sua experiência. Este é o pagamento simbólico à sua Escola e à psicanálise, pela transmissão que recebeu!
Essa publicação reúne os trabalhos apresentados em três eventos: no Rio, em Vitória e em Brasília. Ela visa a tornar público o que pensam os membros que compõem as Escolas Lacanianas de Psicanálise do Rio, Vitória e Brasília sobre o ensino e a transmissão em Psicanálise.
Não há ensino senão o que se sustenta da experiência do um a um com o real do inconsciente. No entanto, ao falar do que antes não se sabia, um dizer se afirma como uma verdade e um desejo se transmite, com o entusiasmo com que se recebe uma novidade.

Teresa Palazzo Nazar

 

Textos:

APRESENTAÇÃO
PARTE I – A FORMAÇÃO DO ANALISTA
Formação do analista: considerações sobre o ensino e a transmissão da psicanálise – Renata Conde Vescovi
Há psicanalista sem escola? Autorização e Nominação – Ana Paula da Costa Gomes
Sobre a formação do analista – José Mário Simil Cordeiro
A formação do psicanalista e a escola – Wadson Damasceno
Lacan nunca falou de formação analítica. Lacan falou de formações do inconsciente – Adeane Fleury
Amor: do engodo à dignidade – Cristina Maria Chequer Soares Gomes
O laço social entre analistas – Ruth Ferreira Bastos
Apontamento sobre o desejo do analista – Rosangela Jones Fernandes Saraiva
Sem título: cem títulos – Onezir Borges
Desejo do Analista: da identificação a um objeto à causa de desejo – Darlene Vianna Gaudio Angelo Tronquoy
Uma psicanálise, o que é isso? – Ana Paula Gomes
Um percurso pelo ato psicanalítico: anotações de um cartel – Claudia Pretti Vasconcellos
Anotações sobre o ato e o dispositivo analítico – José Mário Simil Cordeiro
Ato psicanalítico: quem autoriza? – Cristina Maria Chequer Soares Gomes
Restos de um cartel – Hernani Costa Junior
Do agir ao ato psicanalítico – Teresa Palazzo Nazar
Verificação do fim de análise pela metamorfose do amor homo em amor heterossexual – Lígia Maria Quintanilha Merhi
Apontamentos sobre o processo analítico – José Mário Simil Cordeiro
Do impasse freudiano ao passe lacaniano: da falta fálica à causa do desejo – Ana Paula da Costa Gomes

PARTE II – DISPOSITIVOS DE VERIFICAÇÃO
Dispositivo: o que é? – Amanda Andrade Lima
A supervisão: um dispositivo na formação do psicanalista – Hernani Costa Junior
O lugar da supervisão na formação do analista – Vera Lúcia Saleme Colnago
O lugar sessão clínica na formação da analista: recortes de uma experiência – Alcione da Penha Vargiu Vasconcellos de Andrade
O dispositivo sessão clínica e a formação do analista – Flávia Chiapetta de Azevedo
A sessão clínica – Marcelia Marino Schneider Côgo
Morto fala?- Maria da Fátima do Amaral Silva
Sessão clínica: dispositivo ético na formação do analista – Alcione da Penha Vargiu Vasconcellos de Andrade
Momento de concluir: reflexões sobre o final de análise e sobre o passe – Renata Conde Vescovi
Nomeações e nominações: impasse ou passe? – Teresa Palazzo Nazar
Dispositivos de verificação: as bases para uma escola – Abílio Ribeiro Alves
Fórum: final de análise e passe – Ruth Ferreira Bastos
O passe e a nomeação de AE – Vera Lúcia Saleme Colnago
A hora do encontro é despedida – Maria Teresa Saraiva Melloni
Metamorfose, mortemesafo! – Renata Conde Vescovi
O que pode ser uma vida psicanalisada? – Teresa Palazzo Nazar

Peso 0,5 kg
Dimensões 5 × 14 × 21 cm