Escola Lacaniana

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Seminário “O Sujeito como Significante?” começa nesta sexta (18/03)

 

Sujeito como Significante?”

 

Esse trabalho surge de outro trabalho em Cartel em que levou-me a seguinte pergunta e conseguinte resposta:

– Sujeito tem significado?

– Penso em sujeito como significante e, nesse pensamento, suponho que aquele sujeito significado encerra em seu discurso o discurso do capital como distinção.

Na troca de idéias que ocorreu após a apresentação do trabalho, uma das colegas faz a questão inaugural para as cadeias significantes que se propõe deslizar na busca por respostas ela:  Sujeito como  Significante?

Lacan proferiu uma conferência na qual dissertou sobre o discurso do capitalista, em 12 de maio de 1972, em Milão, já introduzido por ele em seu O Seminário, livro 17: o avesso da psicanálise (1969-1970/1992). Além dos quatro discursos já expostos, este discurso se apresenta não como um quinto discurso, mas como mais um, por diferir dos anteriores. A diferenciação, que vai além da estrutura do discurso, está no fato de que, enquanto os outros quatro discursos são formadores de laço social, o discurso do capitalista foraclui o laço social.

A questão inaugural surgiu de um trabalho sobre “As Psicoses” em que se buscava uma maior compreensão sobre:

– a função do nome do pai, este foracluido naquelas estruturas subjetivas;

– a função do nome do pai, este foracluido, naquelas estruturas subjetivas.

Não fosse a vírgula, lembrada em segundo momento da escrita deste trabalho, a insistência da afirmação de que na estrutura subjetiva na psicose está foracluido o nome do pai presentifica-se ausentando-se de maneira reflexiva infinita, onde “mais um” discurso não chega a sustentar-se como quinto na cadeia deslizante dos 4 discursos anteriormente nomeados, permanecendo assim como um vir a ser “mais um”.

O que o significante nome do pai tem a ver com o laço social? É a simbolização do nome do pai que instaura uma particularização no sujeito, trazendo uma distinção entre o eu e o social? Se é possível uma foraclusão do laço social pelo discurso do capitalista, mas não do nome do pai, o sujeito neurótico e o desejo implícito nele estão significados, portanto mortificados, nesse discurso? É essa particularização primeira que leva a uma identificação com o outro e, portanto, a um nó social que foraclui aqueles que não se sujeitam a ela?

A discussão sobre os discursos demanda todo um trabalho que não faremos por ora, mas já nos avisando de que não teremos como estar fora deles, como não os atravessarmos em algum momento desse percurso, que se pretende trilhar por dois anos, com a contribuição de outros identificados com essa Escola.  Nesse momento, viu-se a importância de abrir caminhos a partir dessas identificações que inauguram laços e também os rompem, portanto, de derivar o que “sujeito” como significante pode trazer além do sujeito significado na teoria Lacaniana, extraído da invenção freudiana. Não seria possível essa questão sem a assistência deles e dessa Escola e de outros pensadores mais contemporâneos.

 

“O sujeito da psicanálise , o sujeito do desejo inconsciente, o sujeito do significante é, desde Freud, um sujeito clivado, cindido; e, com  Lacan, um sujeito intervalar, no sentido de produzido entre significantes , de ser aquilo que é representado por um significante para outro significante, aquilo que cai como ‘resto’ no entrecruzamento das cadeias significantes”

Agostinho Ramalho Marques Neto

 

Manter o título do trabalho como questão e, ao insistir em responder, trazer mais questões, nos traz a dimensão de significante e não do significado que a vida pode trazer frente a conclusão dela: enigma sobre o depois do que é certo, a morte. O sujeito como significante, ou seja, capaz de representar um sujeito para outro sujeito, traz a aposta do sujeito estruturante e não estruturado, como constituinte da cadeia simbólica dinâmica, que insiste em operar vetorialmente oposto ao que está estruturado no Real, a(s) morte(s).

Em o “O Seminário sobre a ‘Carta Roubada’”, temos uma dinâmica onde o “mais um” estruturante de cada sujeito envolvido em torno da mensagem contida na carta enlaça personagens e leitores. “Mai um” justamente por não se saber o verdadeiro conteúdo da carta além do que ele possa representar para outros, representação essa que mobiliza toda a narrativa frente o que viria a ser da autora da carta caso o conteúdo fosse revelado publicamente. Cada personagem se coloca como sujeito na trama a partir da imaginarização do conteúdo não revelado na carta.

O “mais um” em cada um não se fixa, presentifica-se ausentando-se a partir de cada relação entre personagens, em como cada sujeito se representa para outro sujeito a partir desse mais um que cada sujeito porta na relação com o outro dinamicamente. Indissociável a relação entre sujeito e significante e por que não uma equivalência entre eles? O que seria um avatar?

“ Saltando de um ano sobre o segundo depois desse, isso pode lhes parecer colocar uma questão, ainda que lamentável como um atraso, não é, contudo, inteiramente justificado, e vocês verão que, se retornarem a sequencia de meus seminários desde o ano de 1953, o primeiro sobre Os Escritos Técnicos, o segundo sobre  O Eu, a Técnica e a Teoria Freudianas e Psicanalíticas, o terceiro sobre As Estruturas Freudianas da Psicose, o quarto sobre a Relação de Objeto, o quinto sobre As Formações do Inconsciente, o sexto  O Desejo e sua Interpretação, depois  A Ética, A Transferência, A Identificação, ao qual chegamos, são nove. Vocês podem facilmente encontrar aí uma alternância, uma pulsação. Vocês verão que de dois em dois domina, alternadamente, a temática do sujeito e a do significante, o que, dado que é pelo significante, pela elaboração da função do simbólico que começamos, faz também recair este ano sobre o significante, posto que estamos em número ímpar, já que o importante na identificação deve ser, propriamente, a relação do sujeito com o significante.”

Lacan, Seminário A Identificação, tradução não oficial.

 

Pretende-se estudar o seminário A Identificação com vistas no Seminário R.S.I., ambos sem tradução oficial, mas que isso não seja um impedimento desse percurso, a tradução, e sim um ir além de alguma forma nesse percurso.