Escola Lacaniana

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Dizer 15 – Sobre o Passe: Testemunhos

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A presente publicação, que passa a circular na Escola, é fruto dos trabalhos apresentados no evento “Sobre o passe: Testemunhos”, ocorrido no dia 22 de junho de 2013. Tal evento decorreu da experiência de dois dispositivos do passe que aconteceram na Escola Lacaniana de Psicanálise-RJ.

Ao propor o passe, em 9 de outubro de 1967, juntamente com o cartel, como um dos dispositivos de base, Lacan buscava um novo funcionamento na sua escola, distinto da hierarquia proposta pela Associação Internacional de Psicanálise (IPA). A proposta consistia em dissipar a ‘sombra espessa’ que encobria a formação dos analistas na IPA – e a sombra espessa era o didatismo que encobria a castração do Outro, na medida em que o didata ocupa o lugar de ideal.

Com o dispositivo do passe, Lacan esperava recolher daqueles que finalizam suas análises um testemunho sobre o real em jogo na formação do analista, presente na destituição subjetiva.

O passe, na Escola de Lacan, como ele próprio designou, foi um fracasso, mas foi também um dos seus legados para que a psicanálise não se confinasse no didatismo. Assim, o que esta publicação vem mostrar é que o dispositivo do passe coloca o analista em questionamento permanente.

A importância dos textos aqui apresentados está na inscrição dos restos recolhidos da experiência dos dois dispositivos, realizados na ELP-RJ. Nós iniciamos a publicação com os relatos testemunhais dos passadores: eles oferecem ao leitor testemunhos dos efeitos de surpresa, como destaca Elena Jabif, como integrante do júri, e dos enigmas deixados a partir da experiência no dispositivo.

Quando Lacan introduziu o dispositivo do passe, definiu o lugar do passador como sendo o próprio passe, na medida em que são sujeitos que não terminaram suas análises mas estão em vias de terminá-las.

Por essa razão, Flávia Chiapetta, no texto “Uma experiência do passe, como passadora”, interroga se seria possível o passador “escutar aquilo que lhe foi transmitido pelo passante, para além do ponto em que está da sua experiência analítica? Ou, a mesma questão às avessas: ‘Pode o júri extrair das palavras do passador um saber cujo alcance o passador ainda desconhece?’”

Os textos dos passadores parecem dialogar entre si. Encontramos neles um ponto em comum: a questão da transmissão. Dessa forma, Abilio Alves parece encaminhar a questão colocada por Chiapetta, afirmando que “há uma insciência no passador, pois aquilo que transmite pode fazê-lo sem o saber”.

Ana Benjó, no texto “Um passador e seu testemunho”, mostra que a “dificuldade do testemunho reside no fato de que o que pode ser narrado não é o essencial”. O empenho nas anotações com o intuito de “registrar para não esquecer”, é uma forma de dar sentido ao real em jogo na experiência. Foi na própria experiência do dispositivo do passe que Benjó, ao ser convocada pelo júri “para falar mais”, mesmo quando já “não tinha mais o que dizer”, que pôde concluir que “a função do passador é fazer passar o impossível de dizer”.

Renata Vescovi chega à mesma conclusão a partir de uma mostração do inconsciente: a passadora “jogou fora as anotações”. Esse ato lhe “permitiu entender que os passadores (…) sempre lidam com os restos, que ficaram inscritos na memória do corpo”. O testemunho “vale essencialmente por aquilo que nele falta e que se inscreveu como ausência”. Sendo assim, podemos concluir que “o passador, ao recolher o depoimento do passante, é testemunha da escrita desta marca e se presta, com suas cifras inconscientes, a ser o passador dos efeitos do real para o júri de acolhimento”.

Um acontecimento importante marca um dos dispositivos: o desligamento da passante, no momento em que o cartel do júri se encontraria para decidir sobre os efeitos desta experiência. Esse ato não é sem consequências. Abilio Alves coloca a questão: “O passe é demandado pelo passante, porém, o que se passa quando o próprio passante se elimina do dispositivo?” E desenvolve essa questão a partir de um ato falho: testamento no lugar de testemunho.

O testemunho de Chiapetta termina com um significante que bem define o legado de Lacan, que não cessava de passar o passe: a insistência – que é distinta de qualquer hierarquização dos lugares de uma Escola, inclusive do lugar do júri do passe, como indica Mariel Alderete sobre a importância de renodulação do júri a cada passe solicitado numa Escola. A insistência do passe é a oportunidade de experimentar o furo do saber e o fazer a psicanálise avançar para além das idealizações sobre os finais de análise dos analistas, pois como diz Analía Stepak: “Se não há redução dos ideais, não há de modo algum emergência do não-todo, ocasião para o encontro com a falta e um saber furado.”

O passe é a oportunidade de “tomar o material da análise de um, sua tentativa de falar da destituição vivida, para uso de outros na produção de saber”, como enuncia Ruth Bastos. Pois, como lembra Teresa Nazar, “é a intensão que funda a extensão”, e “se houve psicanalista, é difícil pensar que ele queira renunciar ao entusiasmo de transmitir seu canto”.

O fato é que a presença do dispositivo na Escola, o evento “Sobre o passe: Testemunhos” e a presente publicação nos permitem renovar as interrogações sobre o que vem a ser “tornar-se analista” e manter o compromisso da Escola com a transmissão da psicanálise.

Sumário
Ana Paula Gomes/Flávia Chiapetta

 

Passadores:

O passador: Uma experiência

Abílio Ribeiro Alves

 

Uma experiência do dispositivo do passe: Como passadora

Flávia Chiapetta de Azevedo

 

Um passador e seu testemunho

Ana Benjó

 

A escrita do real para ser lida e escutada: Um testemunho como passadora

Renata Conde Vescovi

 

Júri:

Testemunho do Passe no Rio de Janeiro

Elena Jabif

 

Informe do Júri de Passe

Analía Stepak

 

Relatório do Júri de Passe da Escola Lacaniana de Psicanálise

Mariel Weskamp

 

Testemunho sobre testemunhos
Ruth Ferreira Bastos

 

O Dispositivo do Passe

​Teresa Palazzo Nazar

Peso 0,5 kg
Dimensões 5 × 14 × 21 cm