Escola Lacaniana

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Psicanálise e Cultura: Reflexões sobre os caminhos civilizatórios

A civilização é um processo onde o homem segue se construindo valendo-se da experiência própria e de quem o antecedeu.

“O processo específico de crescimento psicológico nas sociedades ocidentais, que com tanta frequência ocupa a mente de psicólogos e pedagogos modernos, nada mais é do que o processo civilizador a que todos os jovens, como resultado de um processo civilizador social operante durante muitos séculos, são automaticamente submetidos desde a mais tenra infância, em maior ou menor grau e com maior ou menor sucesso.   […] 0 indivíduo, em sua curta história, passa mais uma vez através de alguns dos processos que a sociedade experimentou em sua longa história.”[1]

Dito isso, a pergunta que se impõe diz respeito aos caminhos tomados pelo homem depois desses dois grandes acontecimentos que foram as duas grandes Guerras Mundiais, modificando o conceito de civilização cuja definição se sustenta da idéia de um movimento que minimiza diferenças individuais e que é para a frente e constante, na contramão do conceito alemão Kultur, cujo sentido é delimitador de uma posição individual, centrando-se em sistemas filosóficos, religiosos e, também, da estruturação psíquica de cada sujeito.

Cito novamente, Norbert Elias: “ Enquanto o conceito de civilização inclui a função de dar expressão a uma tendência continuamente expansionista de grupos colonizadores, o conceito de Kultur reflete a consciência de si mesma de uma nação que teve de buscar e constituir incessante e novamente suas fronteiras, tanto no sentido político como espiritual, e repetidas vezes perguntar a si mesma: ‘Qual é realmente nossa identidade? ’  A orientação do conceito alemão de cultura, com sua tendência à demarcação e ênfase em diferenças e no seu detalhamento, entre grupos, corresponde a esse processo histórico.”[2]

 

Freud, em seus mais fundamentais textos para a compreensão da força da Pulsão de morte presente na constituição do humano e, mais especificamente, na estruturação do inconsciente, diz-nos que o trabalho de civilização é impossível, visto que o homem não tem como domar, inteiramente sua pulsão de destruição. Isso lhe foi evidente em sua época, com o advento da 1ª Grande Guerra e o anuncio do 2º grande conflito Mundial. À pergunta colocada-como pode o homem, tendo chegado a tão alto grau de conquistas, no campo civilizatório, retroceder à tamanha barbárie?  Um outro grande psicanalista, Jacques Lacan, faz eco dizendo, em seu seminário sobre a Ética, de que não fomos ainda capazes de inventar uma nova erótica. Isso quer dizer que o homem segue sua trajetória civilizatória sem saber como lidar com sua pulsão de destruição, sem ter contrapartidas que satisfaçam sua eterna busca de poder e dominação sobre outros. Para esse autor não há progresso.

Uma nova erótica implicaria uma ética do desejo cujo limite, político, seria o desejo do outro.

Neste espaço, estará aberto o debate aos psicanalista e representantes de outras áreas do saber.

 

 

 

[1] Elias, N.” O processo civilizador”. Rio de Janeiro Zahar, 1990, P.15

[2] Elias, N.” O processo civilizador “. Rio de Janeiro, Zahar, 1990, P.25